Moradores de Maceió estão aterrorizados com o colapso da mina da Braskem

O presidente da Associação Comunitária e Beneficente dos Moradores do Bairro do Bom Parto, localizado no município de Maceió, Alagoas, Fernando Lima, de 60 anos, é mais um dos milhares de cidadãos alagoanos que estão sofrendo com o risco de afundamento de solo da mina da Braskem. À Sputnik Brasil, Lima destaca a situação caótica […]

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O presidente da Associação Comunitária e Beneficente dos Moradores do Bairro do Bom Parto, localizado no município de Maceió, Alagoas, Fernando Lima, de 60 anos, é mais um dos milhares de cidadãos alagoanos que estão sofrendo com o risco de afundamento de solo da mina da Braskem.
À Sputnik Brasil, Lima destaca a situação caótica vivida pela comunidade, onde 35% já foi realocada e mais 15% está prevista para ser deslocado em breve.
Os tremores e deslocamentos do subsolo da mina ocorrem devido à atividade extrativista de sal-gema, operada pela empresa Braskem desde 1976 e encerrada em 2019.
Segundo Lima, a mina, agora em fase crítica, representa uma ameaça iminente. Ele alerta para o risco de colapso, mencionando que o teto da caverna está caindo, o que levanta dúvidas sobre o impacto nas demais minas e, por consequência, no bairro. Para ele, a situação é um “genocídio social”, marcada pela falta de infraestrutura, escolas e assistência médica.

“Estamos vivendo em situação caótica, esperando que a mina, que é mais próxima dos moradores do Bom Parto, que está em fase crítica com o teto da caverna prestes a cair… boa parte já está caindo […] nós estamos esperando pra ver o q vai acontecer com todo o restante das minas, se vai afetar o bairro todo ou apenas uma parte”, conta à Sputnik Brasil.

Além disso, Lima denuncia a insensibilidade da empresa, que, segundo ele, conta com a conivência de políticos. Ele ressalta que são os moradores quem estão arcando com as consequências, inclusive com a própria vida, citando o trágico caso de um policial civil realocado que não suportou as condições e cometeu suicídio.

“Bom Parto já não era tão fácil. Hoje, com essa possibilidade do chão ceder, só piora. Além de tudo, é muito perceptível que a empresa [Braskem] não está nem aí para os moradores, para a população de modo geral”, desabafa.

Diante deste panorama, a comunidade está tomando medidas legais e entrando com um processo contra o Instituto do Meio Ambiente (IMA) do estado de Alagoas, responsável pelas licenças de mineração e escavação. Lima enfatiza a urgência de ações concretas para proteger a população e responsabilizar as partes envolvidas.
Ana Maria Leal, psicóloga residente em Maceió desde 1990, precisou ser realocada compulsoriamente devido à crise envolvendo a mina da Braskem. Aos 61 anos, ela descreveu os desafios enfrentados ao buscar uma nova moradia para sua mãe idosa, destacando as graves quedas que a idosa sofreu no apartamento comprometido.
“Eu precisava sair de onde estava com a minha mãe para outro lugar. Ela era já muito idosa e já havia se acidentado algumas vezes devido os buracos causados pelos abalos da terra [sísmicos]. Foram dois anos de muita luta até conseguirmos nos realocar”, desabafa.
A psicóloga revelou a agonia vivida durante dois anos para fechar um acordo que permitisse a mudança para um local mais seguro. Apesar de finalmente alcançar o acordo em 2020, ela salientou que a Caixa Econômica não assumiu o seguro do apartamento, deixando-as responsáveis pelo valor devido.
O relato de Ana Maria evidenciou a falta de sensibilidade das autoridades em lidar com as consequências da mineração em área urbana. Ela destacou a pressão enfrentada, a dificuldade em fechar o acordo e a angústia por não ter uma opção viável de moradia para sua mãe, recentemente falecida aos 97 anos.
Ana Maria mencionou casos de pessoas que recusaram o acordo lesivo e agora enfrentam situações ainda mais difíceis.

“Esse acordo demorou também a ser traçado. Porque primeiro eles queriam que a gente saísse da área. Nós saímos. Sem saber nem que acordo seria esse. E eles pagariam um apartamento para a gente. Mas no valor de R$ 1 mil”, detalhou.

A atual situação da região onde a psicóloga reside, em Ponta Verde, fica distante da área afetada, mas ela enfatiza a falta de ação efetiva das autoridades diante do desastre iminente.
Na sexta-feira (1º), o governo federal brasileiro decretou estado de emergência em Maceió, o que permite o envio de recursos da União para auxiliar o município a mitigar os danos causados no bairro.
Moisés Melo, coordenador da Defesa Civil de Alagoas, afirmou em entrevista à CNN que o dano do colapso da mina deve ser menor do que o esperado. Ele disse que toda a área está sob isolamento e que a população está a 2 km de distância do epicentro dos tremores.
Em nota, a Prefeitura de Maceió afirmou que “por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo”.
A Braskem alega que está acompanhando a situação e monitorando dados em tempo real, e os compartilhando com autoridades competentes.
Fonte: Sputinik Brasil