Carnaval movimenta a economia
“A festa é uma criação coletiva, o Carnaval das escolas de samba principalmente. É uma criação coletiva que envolve vários atores, vários setores. Carnaval e economia são assuntos indissociáveis”, frisou o jornalista.
“É o modelo mais democrático, muito animado, traz uma sensação de pertencimento e permite todas as formas de participação. [A pessoa] pode cantar, pode tocar, pode ser só folião, só observador. Ao mesmo tempo, é um modelo que gira a cadeia produtiva de uma forma muito democratizada porque o próprio ambulante não tem que pedir licença para estar nesse lugar. Por isso esse modelo repercutiu no Brasil todo”, aponta a presidente da Sebastiana.
“O Carnaval é a nossa maior identidade cultural, e a gente tem que se orgulhar disso. É aí que construímos grandes artistas, grandes nomes, grandes momentos da nossa cultura e da nossa arte”, disse Antan.
E tem muita política no Carnaval
“Não tem como pensar o Carnaval só pela ‘alienação’, pelo aspecto mais lúdico, de só prazer e alegria, descontração, como se ele fosse alienante e alienado. Desde o surgimento das escolas de samba, a questão política está ali. Às vezes ela não era explicitamente colocada no enredo, mas estava na luta por espaço, na conquista de espaço, na busca de representatividade, na ação cultural, na cidadania. Então o que eu percebo é que desde a saída do desfile em si já há um ato de resistência política.”

“Inicialmente eram pequenas pitadas, e isso, ao longo do tempo, foi sendo ampliado até explodir em, por exemplo, ‘Quero votar diretamente para presidente’ [Caprichosos de Pilares, 1985] e o engajamento maior no movimento das Diretas Já. Com todo o engajamento da própria população, uma mudança da imprensa também — começando a ser mais aberta à questão da redemocratização —, mais escolas entraram nessa pauta. E [os desfiles de] 1985, 1986 e 1987 foram um marco. Escola falando de FMI [Fundo Monetário Internacional], de problemas… E o Império Serrano em 1986 faz como se fosse uma espécie de carta de intenções. A constituinte que estava para ser iniciada, [e o desfile do Império estava] desejando educação, saúde, ecologia.”
“O Carnaval também é complexo e contraditório. É supostamente uma festa da libertação, uma festa em que as amarras sociais se tornariam mais fluidas, mas ao mesmo tempo essas amarras também estão sublinhadas naquela festa. Então, para mim, é sempre as duas coisas, e uma coisa não anula a outra. Mesmo que se contrapondo, estão ali”, disse o integrante do Carnavalize.

“Nós já fomos considerados o país do Carnaval — o escritor Jorge Amado tem até um livro com esse título. Acho que faz parte da identidade nacional, com o futebol. Faz parte da cultura. E em Santa Catarina também. Ao contrário do que se poderia supor, em termos de ser um estado com uma configuração étnica bem específica em relação ao resto do Brasil, nós temos um Carnaval forte, significativo, que vem desde 1948, tendo sido interrompido pouquíssimas vezes. Sempre com muita luta pelo pessoal da escola de samba para que se mantivesse, mas vem desde 1948. É alguma coisa bastante significativa.”