Os EUA concluíram a retirada do Afeganistão, encerrando a guerra mais longa do país e fechando um capítulo da história militar que provavelmente será lembrado por fracassos colossais, promessas não cumpridas e uma saída frenética que custou a vida de mais de 180 afegãos e 13 militares dos EUA. Um dos últimos vôos que deixou o país foi um avião C-17A da Força Aérea dos EUA que partiu de Cabul lotado de afegãos.
Os EUA concluíram a retirada de suas forças do Afeganistão nesta segunda-feira (30), afirmou o Pentágono, quase vinte anos depois de invadir o país após os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York, EUA.
“Estou aqui para anunciar a conclusão de nossa retirada do Afeganistão […]. O último [avião cargueiro] C-17 decolou do Aeroporto Internacional Hamid Karzai em 30 de agosto […] a última aeronave tripulada agora está liberando o espaço aéreo acima do Afeganistão […] com o general Chris Donahue e o embaixador dos EUA para o Afeganistão Ross Wilson a bordo”, disse o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA (USCENTCOM, na sigla em inglês), em entrevista coletiva.
McKenzie acrescentou que todos os soldados e oficiais norte-americanos estão fora do Afeganistão, mas os EUA não conseguiram retirar todo mundo “que queríamos”. As forças dos EUA e da coalizão evacuaram mais de 123.000 civis do Afeganistão nos últimos dias, completou McKenzie.
A Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) dos EUA emitiu um aviso nesta segunda-feira (30) avisando que o aeroporto de Cabul não é mais controlado pelos norte-americanos e as aeronaves devem ter muito cuidado ao pousar lá.
‘Fizemos história’
Anas Haqqani, um alto funcionário do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países) afirmou na rede social Twitter que o movimento “fez história”, enquanto era possível ouvir tiros comemorativos em toda a capital afegã após a retirada das últimas tropas americanas.
Fizemos história novamente. A ocupação de 20 anos do Afeganistão pelos EUA Estados Unidos e pela OTAN [ Organização do Tratado do Atlântico Norte] terminou esta noite [30 de agosto]. Estou muito feliz que após 20 anos de jihad, sacrifícios e sofrimentos, tenho esse orgulho de ver esses momentos históricos. EU oro pelas almas de todos os mártires da Jihad.
De acordo com McKenzie, o Talibã prometeu não interferir na retirada dos EUA e acrescentou que Washington fará todo o possível para garantir que o aeroporto internacional de Cabul esteja operacional para o tráfego civil.
O Talibã precisará de assistência técnica para operar o aeroporto de Cabul, disse ao Sputnik Mohammad Naim, porta-voz do gabinete político do movimento.
“Certamente, existe assistência em questões técnicas relacionadas à operação aeroportuária, e isso é bem-vindo. Tinham turcos no departamento técnico do aeroporto de Cabul e se quisessem podiam ter ficado e trabalhado, claro, só na parte técnica […]. Não tem problema se eles ficarem para nos ajudar. Se não quiserem, podemos entrar em contato com outras partes […]. A retomada dos voos do aeroporto de Cabul é uma das nossas prioridades. Uma das nossas metas é iniciar voos e comunicação com o exterior […]. Existem voos domésticos entre estados e províncias, sendo necessário retomá-los, principalmente em termos comerciais. Isso é muito importante e estamos fazendo o possível para que esses voos sejam retomados o mais rápido possível”, disse Naim.
O Qatar informou na segunda-feira que está participando de negociações sobre a operação do aeroporto com representantes afegãos e de outros países, principalmente dos Estados Unidos e da Turquia. Um membro do Ministério das Relações Exteriores do Qatar afirmou que a prioridade é retomar a atividade normal do aeroporto e manter a segurança do local. O Qatar é um aliado dos Estados Unidos que por muito tempo sediou também um escritório político do Talibã.
O Talibã exigiu repetidamente que os EUA e seus aliados concluíssem a evacuação do Afeganistão até 31 de agosto. O movimento controla todo o território do país, exceto a província de Panjshir, onde, sob a bandeira da Aliança do Norte, uma resistência foi declarada entre aqueles que se recusaram a reconhecer a autoridade do Talibã.
Biden deixou US$ 85 bilhões em armamentos dos EUA no Afeganistão
O presidente norte-americano Joe Biden deixou U$ 85 bilhões de dólares em equipamentos e aviões de guerra no Afeganistão. Agora, os Talibãs estão 10 vezes mais armados que quase toda a América Latina e dez vezes mais perigosos do que quando os Estados Unidos invadiram o país, em 2011, após o ataque às Torres Gêmeas no fatídico 11 de setembro.
Com a saída de seus últimos militares, os Estados Unidos encerraram sua guerra de duas décadas com o Talibã de volta ao poder. Muitos afegãos seguem com medo do movimento fundamentalista islâmico e de mais instabilidade no futuro, e há registros esporádicos de assassinatos e outros abusos ocorridos em áreas sob o controle do Talibã, apesar de suas promessas de restaurar a paz e a segurança no país.
DEZ FILMES SOBRE O AFEGANISTÃO
“Hava, Maryam, Ayesha” (2019)
O filme mais recente da diretora afegã Sahraa Karimi estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Ele conta a história de três mulheres grávidas em Cabul. Pouco antes de a capital afegã ser tomada, Karimi enviou uma carta aberta ao mundo alertando sobre o Talibã. Depois, ela fugiu do Afeganistão e encontrou abrigo em Kiev.
Com informações do DW, Sputnik News e redes sociais – Foto e infográfico: Reprodução Twitter