Conass, secretários estaduais de saúde e governadores rejeitam recomendação do governo Bolsonaro de não vacinar crianças

irigida às crianças do Brasil em que afirma que os gestores não exigirão nenhum tipo de documento na campanha de vacinação infantil contra a covid-19. A decisão contraria anúncio do governo de Jair Bolsonaro de que irá recomendar que os pais ou responsáveis por crianças de 5 a 11 anos apresentem prescrição médica e declaração de consentimento para receberem a imunização.

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O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) publicou nesta sexta-feira (24) mensagem de Natal dirigida às crianças do Brasil em que afirma que os gestores não exigirão nenhum tipo de documento na campanha de vacinação infantil contra a covid-19. A decisão contraria anúncio do governo de Jair Bolsonaro de que irá recomendar que os pais ou responsáveis por crianças de 5 a 11 anos apresentem prescrição médica e declaração de consentimento para receberem a imunização.

“Infelizmente há quem ache natural perder a vida de vocês, pequeninos, para o coronavírus. (…) Por isso, no lugar de dificultar, a gente procura facilitar a vacinação de todos os brasileirinhos. E é esse recado que queremos dar no dia de hoje, véspera de Natal: quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina”, diz o cartão (leia a íntegra ao fim desta matéria).

Resistência aberta

A definição sobre quais regras devem ser aplicadas para a vacinação de suas populações cabe aos estados e municípios e não ao governo federal.

Porém, após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizar a aplicação da vacina da Pfizer para essa faixa etária, o presidente Jair Bolsonaro transformou a vacinação infantil em mais uma batalha em sua guerra contra a vida dos brasileiros.

Ele chegou a dizer que iria divulgar o nome dos técnicos da agência que aprovaram o uso da vacina da Pfizer para crianças a partir de cinco anos. Em seguida, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também passou a se mostrar contrário à medida, mesmo sendo o Brasil o segundo país com mais mortes de crianças causadas pela covid. De março do ano passado até agora, foram 1.138 óbitos registrados na faixa etária de zero a nove anos.

:: Brasil é um dos piores do mundo em mortes de crianças por covid-19

  • “A nossa recomendação é que essa vacina não seja aplicada de forma compulsória. Ou seja, depende da vontade dos pais. E essa vacina estará vinculada a prescrição médica, e a recomendação obedece a todas as orientações da Anvisa”, disse.

Além disso, o governo federal anunciou uma consulta pública para colher opiniões sobre o tema. A investida contra a saúde dos pequenos recebe intensa reação de praticamente todos os setores da sociedade brasileira. “Vacina autorizada pela Anvisa não é assunto de consulta pública, pois a autoridade deste órgão independe do voto”, afirmou a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, que também faz parte da coordenação da Rede Análise Covid-19.

Contraditório e interesseiro

Ao passar a defender abertamente a restrição à vacinação infantil contra a covid, o ministro Queiroga contraria posicionamento anterior dele mesmo. Em novembro, em entrevista a uma emissora de TV, ele afirmou que incluiria a imunização de crianças na programação de combate ao coronavírus, tão logo houvesse autorização da Anvisa.

A entrevista foi lembrada pelo perfil Desmentindo Bolsonaro no Twitter.

Contestado

Segundo a Folha de S.Paulo, muitos dos gestores estaduais criticam duramente as ações do ministro frente à pasta, justamente por atuar apenas em função da base bolsonarista. Afirmam nos bastidores que Queiroga havia abandonado os compromissos com a saúde pública para se dedicar a uma agenda que visa uma futura candidatura a um cargo legislativo no ano que vem.

Ainda de acordo com a Folha, os secretários consideram que os posicionamentos mais recentes do ministro visam apenas agradar o mesmo eleitorado do presidente da República e não ajudam no combate à pandemia, ao contrário.

O jornal cita entrevista em que o presidente do Conass, Carlos Lula, declarou, em outubro, que Queiroga tinha perdido as condições de gerir o ministério.