À memória de Bruno e Dom

Estrutura da Funai está à serviço de uma política de extermínio por Cristina Serra   O dossiê “Fundação Anti-indígena”, organizado pela INA (Indigenistas Associados) e pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), expõe com profusão de detalhes e documentação como a Funai, sob Bolsonaro, se transformou numa máquina de guerra contra os povos indígenas. A estrutura […]

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Estrutura da Funai está à serviço de uma política de extermínio

por Cristina Serra

 

O dossiê “Fundação Anti-indígena”, organizado pela INA (Indigenistas Associados) e pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), expõe com profusão de detalhes e documentação como a Funai, sob Bolsonaro, se transformou numa máquina de guerra contra os povos indígenas.

A estrutura do órgão está a serviço de uma política de extermínio, que impede novas demarcações e facilita a invasão dos territórios e a implantação de atividades predatórias e criminosas. O dossiê também mostra as perseguições contra funcionários que tentam resistir ao projeto de etnocídio, como foi o caso de Bruno Pereira.

Outro exemplo de acosso é o do indigenista Ricardo Henrique Rao.

Em entrevista ao portal Sul21, ele conta que buscou asilo na Noruega, no fim de 2019, logo após o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, no Maranhão, e depois de denunciar a atuação de milícias (supostamente do Rio de Janeiro) associadas ao narcotráfico e a desmatadores em terras indígenas no estado.

Sem o respaldo da Funai e sofrendo intimidações até da Abin, Rao decidiu deixar o Brasil.

A invasão das terras indígenas patrocinada pelo Estado se traduz nos números de um relatório da consultoria GeoPrecisa, publicado pelo site Mongabay.

O cruzamento de dados da Funai e do Incra mostra que o governo Bolsonaro reconheceu mais de 250 mil hectares de fazendas dentro de reservas indígenas.

Mais da metade das terras reconhecidas está no Maranhão.

O assalto na mão grande foi possível graças a uma norma da Funai que permitiu o registro de imóveis em territórios sem o processo de demarcação concluído.

É uma investida covarde e sem trégua. O jornalista britânico Dom Phillips entendeu a gravidade da tragédia em curso e quis documentá-la.

Bruno Pereira foi um dos mais valorosos combatentes desta guerra. Fez jus ao legado humanista de Rondon, dos irmãos Villas-Bôas, de Sydney Possuelo e de tantos outros.

Que sejamos capazes de honrar a história e a memória de Bruno e Dom.

 

Artigo publicano originalmente no porral UOL