Um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra a variação dos preços de produtos que o brasileiro mais consome em uma comparação entre janeiro de 2019, primeiro mês de mandato do atual presidente, com os dias atuais.
Nos combustíveis, a variação do diesel, por exemplo, chega a 100,20%. Veja a tabela comparativa:
Combustíveis – preço médio ao consumidor no Brasil, Janeiro de 2019 e Junho de 2022 | |||
Tipo | Janeiro de 2019 (R$) | Junho de 2022 (R$) | Variação (%) |
GLP | 69,26 | 112,6 | 62,58 |
GNV | 3,084 | 5,266 | 70,75 |
GASOLINA COMUM | 4,268 | 7,234 | 69,49 |
OLEO DIESEL | 3,437 | 6,881 | 100,20 |
ETANOL HIDRATADO | 2,812 | 5,015 | 78,34 |
A cesta básica, por consequência, também aumentou. Em janeiro de 2019, a média nacional do preço da cesta básica era de R$ 467,65. Em maio de 2022, último mês medido pelo Dieese, a média foi de R$ 777,93, uma alta de 66,35%. Somente a carne aumentou 88,35%. O Leite, 49%. O feijão 63,71%. As maiores altas foram da batata (115,5%) e óleo (198,8%).
Para o povo, o principal responsável pelo aumento de preços, que impactam diretamente nas famílias, tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. E tem especialitas que analisam os fatos e chegam a mesma conclusão.
“O Brasil tinha ferramentas que poderiam interferir nessa alta de preços, mas ao invés de usá-las, preferiu aumentar os juros para baixar a atividade econômica em um momento de já baixa atividade”, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional, Adriana Marcolino.
Duas das ferramentas, ela diz, são a política de preços da Petrobras, o PPI, que se baseia na variação internacional do barril do petróleo e na cotação do dólar para definir os preços no pais de de importação, implantada pelo governo Temer em 2018), e os estoques reguladores de alimentos mantidos pelo governo que na atual gestão foram esvaziados não possibilitando uma ação do Estado para controlar preços em tempos de crise.
“O Brasil reduziu a capacidade de suas refinarias. Com isso nos tornamos mais dependentes da importação do petróleo refinado”, explica Adriana.
Na outra ponta, o país também adotou uma política de não incentivar a Agricultura Familiar, dificultando o acesso desses agricultores a crédito e tecnologia necessária para a produção. O setor é responsável por cerca de 70% do que vai à mesa do brasileiro. Com menos crédito e menor capacidade, falta produção e os preços ficam mais caros ao consumidor.
“Bolsonaro extinguiu o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional] que poderia pensar em medidas de acesso a alimentos mais baratos e privatizou armazéns que mantinham os estoques reguladores”, diz Adriana.
O controle de mercado com esses estoques se dão pela intervenção do Estado que em épocas de alta produção compra os alimentos como grãos (arroz, milho, soja, feijão, por exemplo) a preço competitivo e vende quando há escassez desses produtos, assim, mantendo um patamar de preços no mercado. Sem estoques, a demanda é que estabelece esses preços, ou seja, encarece o custo final aos brasileiros.
Os aumentos dos preços são resultados da política econômica. Temos um cenário complicado por fatores como seca, guerra e pandemia que contribuem para que haja inflação e problemas de abastecimento, mas a diferença entre o Brasil e todos os outros países onde houve aumento da inflação é o tamanho do índice e a letargia do governo brasileiro em adotar políticas para aliviar o processo inflacionário
Ou seja, a culpa pela disparada dos preços é de Bolsonaro é isso que o povo vai dizer nas ruas para quem ainda não sabe.
INPC acumulado e endividamento
Ainda mostrando a escalada de reajustes, de acordo com os dados do Dieese, o setor de transportes acumulou alta em 12 meses (de junho de 2021 a maio de 2022) de 18,08%. A alimentação subiu 13,44%. Nessa toada o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação oficial do país, em junho, deverá fechar em 11,40%.
Outra consequência da inflação é o aumento do endividamento das famílias que perto do fim do mês acabam não conseguindo fazer as contas caberem no orçamento. Incluindo dívidas relacionadas à habitação (prestação da casa própria ou aluguel), hoje, 52,57% dos brasileiros não estão conseguindo pagar todas as contas. Em dezembro de 2020, o índice era de 43.87%
“Estamos vivendo um aumento do endividamento das famílias, inclusive para compra de itens básicos, em um contexto de aumento dos juros”, diz Adriana Marcolino. Na semana passada, o Banco Central elevou a taxa de juros básica (Selic) mais uma vez, passando de 12,75% ao ano para 13,25% ao ano.
Aumento da fome e da pobreza
A técnica do Dieese explica ainda que como os preços estão relacionados ao consumo básico das famílias, ou seja a alimentação e o transporte, a inflação acaba impactando na renda dos mais pobres.
“Não tem como abrir mão disso [alimentação e transporte] sem passar por necessidade profunda. A fome está relacionada a isso. As pessoas ou compram menos ou não compram porque não têm dinheiro e então, passam fome”, diz Adriana explicando que são os alimentos os produtos que mais pesam orçamento – cerca de 60% do salário mínimo, conforme estudo do Dieese.
Em um cenário de desemprego, baixa renda e preços de alimentos nas alturas, a realidade não poderia ser outra a não ser o aumento da fome no país. Só entre dezembro de 2020 e abril de 2022, aumentou de 19 milhões para 33,1 milhões o total de pessoas com fome no Brasil, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Para sair do buraco
Adriana Marcolino avalia que o desafio de fazer o Brasil retomar o rumo do desenvolvimento não é fácil porque o Estado foi severamente desmontado em suas políticas econômicas e sociais principais após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff.
Mas ela destaca que, apesar de o desmonte ter diminuído a capacidade de reação do país, há medidas que são necessárias para a reconstrução do Brasil. São elas:
- Proteger desempregados não só com o seguro-desemprego, mas com programas de transferência de renda, como bolsa-família, vale gás, transporte social, isenção de tarifas em serviços públicos;
- Programas de garantia de segurança alimentar à população mais vulnerável;
- Revisão de preços de serviços e produtos essenciais como alimentos, energia, medicamentos e combustíveis;
- Suspenção da PPI da Petrobras;
- Fortalecimento da agricultura familiar e estoques reguladores:
- Fazer programa de renegociação de dividas.
Para abrir os olhos do presidente sobre a sua rsponsabilidade e o que precisa ser feito para mudar o quadro, o povo estará nas ruas nos dias 24, 24 e 25.
De acordo com os organizadores, “vale manifestação, panfletagem, diálogo com a população e até visitas de porta em porta e em ‘estas juninas”.
O objetivo da mobilização é estimular todos que querem fazer algo para reconstruir o Brasil a se engajarem de alguma forma, com atividades em todas as cidades, como visitas de casa em casa, distribuição de materiais educativos, ações de solidariedade e também caminhadas, bicicletadas, panfletagens, eventos culturais, entre outras ações.