Cerca de 62,5 milhões de pessoas foram consideradas pobres (29,4% da população) em 2021, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isto significa que o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou 22,7% na comparação com 2020. Já o número de pessoas em situação de extrema pobreza saltou 48,2% no mesmo período.
“A recuperação do mercado de trabalho em 2021 não foi suficiente para reverter as perdas de 2020. Isso e a redução dos valores do Auxílio-Emergencial, podem ajudar a explicar esse resultado”, avaliou André Simões, analista da pesquisa.
Com isso, ele acrescenta ao fator pandemia a dificuldade do governo Bolsonaro de dinamizar a economia, após o pico da crise sanitária, além da decisão equivocada de dificultar o acesso dos mais vulneráveis ao auxílio emergencial, e também reduzir valores em momento de inflação descontrolada.

Os dois aumentos foram recordes, segundo o IBGE. O país nunca havia registrado um avanço tão grande da pobreza e, sobretudo, da extrema pobreza, em dez anos de estatísticas. Em números absolutos, 11,6 milhões de brasileiros passaram a viver abaixo da linha da pobreza. Outros 5,8 milhões passaram a viver em condições de extrema pobreza, somando 17,9 milhões (ou 8,4% da população).
O Banco Mundial considera em situação de pobreza as pessoas que ganham até R$ 486 mensais per capita e, em situação de extrema pobreza, quem vive com R$ 168 por mês. Ou seja, entre cada 10 brasileiros, aproximadamente três vivem abaixo da linha da pobreza e um em condição de extrema pobreza.
Negros e mulheres
A pesquisa mostrou também que, em 2021:
Quase metade (46,2%) das crianças menores de 14 anos de idade viviam abaixo da linha de pobreza – recorde da série histórica iniciada em 2012;
O percentual de jovens de 15 a 29 anos pobres (33,2%) é o triplo dos idosos (10,4%);
Cerca de 62,8% das pessoas que vivem em domicílios chefiados por mulheres sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos estavam abaixo da linha de pobreza;
A proporção de pretos e pardos abaixo da linha de pobreza (37,7%) é praticamente o dobro da proporção de brancos (18,6%).
Índice Gini de desigualdade social voltou a crescer e chegou a 0,544, segundo maior patamar da série. Em termos regionais, em 2021, a região Nordeste possuía o Gini mais elevado (0,556) e a região Sul, o menor (0,462). Já entre os estados, o índice foi de 0,424 em Santa Catarina enquanto em Roraima atingiu 0,596, uma diferença de 40,6%.
Mais auxílio que salário
O IBGE destacou que, em 2021, o rendimento médio domiciliar per capita foi estimado em R$1.353, o menor nível da série histórica, iniciada em 2012.
O pesquisador enfatizou, ainda, que a renda do trabalho tinha menor participação no rendimento dos mais pobres, sendo mais relevante para estes a renda transferida pelos programas assistenciais do governo.
No total da população, o rendimento do trabalho representava 75,3% do total de rendimentos, enquanto os Benefícios de programas sociais representavam 2,6%.
No entanto, entre os que recebiam até ¼ de salário-mínimo per capita, o rendimento do trabalho representava 53,8%, enquanto a parcela proveniente de programas sociais chegava a 34,7%.
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“São domicílios mais vulneráveis e com acesso limitado ao mercado de trabalho. Por isso, os programas sociais acabam tendo maior impacto”, avaliou Simões.

Norte e Nordeste
De acordo com o levantamento do IBGE, foi nas regiões Norte e Nordeste que a pobreza teve o maior avanço. A situação mais grave, no entanto, é a do Nordeste, que concentra mais da metade das pessoas extremamente pobres do país.
Quase metade dos pobres do país também vivia no Nordeste em 2021.
“Com exceção de Rondônia e Tocantins, a incidência da pobreza nas regiões Norte e Nordeste atingiu mais de 40% de suas populações em 2021”, destacou o IBGE.
Portal Vermelho