O ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos) negociou em sigilo com as autoridades norte-americanas um acordo para dividir o dinheiro que seria cobrado da Petrobras em multas e penalidades por causa da corrupção. As informações são dos jornalistas Leandro Demori e Jamil Chade, do UOL.
As conversas entre procuradores suíços e brasileiros aconteceram por mais de três anos pelo aplicativo Telegram e não eram registradas oficialmente. Elas aconteciam por causa do papel das autoridades de Berna na busca das contas usadas como destino das propinas investigadas na Operação Lava Jato.
No dia 29 de janeiro de 2016, Dallagnol escreveu aos suíços para contar o resultado dos primeiros contatos entre ele e as autoridades americanas. Para ambos os lados, foi considerado estratégico envolver a Justiça americana.
Em outra mensagem, Dallagnol diz que “outras empresas internacionais concordam em buscar um acordo conjunto”. “Mencionei que estamos caminhando junto com vocês e eles disseram que é possível coordenar um acordo conjunto com o Brasil e a Suíça quando ambos os países tiverem casos em relação à empresa”, ressaltou o ex-deputado.
A Petrobras, no entanto, fecharia um acordo com os Estados Unidos mais de dois anos depois, aceitando pagar uma multa de 853,2 milhões de dólares para não ser processada. O acordo garantiu o envio de 80% do valor ao Brasil.
Vale destacar que Deltan também escondeu nomes de pelo menos 17 agentes americanos que estiveram em Curitiba em 2015 sem conhecimento do Ministério da Justiça, que deveria ter sido avisado.
Durante as conversas e visitas, os procuradores da Lava Jato sugeriram aos americanos maneiras de driblar um entendimento do STF que permitisse que os EUA ouvissem delatores da Petrobras no Brasil. Os encontros e negociações foram comprovados por documentos oficiais do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, obtidos pelo The Intercept Brasil em parceria com a Agência Pública.
Os chats fazem parte dos arquivos apreendidos pela Polícia Federal (PF) durante a operação Spoofing, que investigou o hackeamento de procuradores e também do ex-juiz Sergio Moro. O caso ficou conhecido como Vaza Jato.