Indígenas estreiam peça em tupi-guarani sobre a sua visão sobre a colonização portuguesa

Não será no Theatro Municipal ou em qualquer outra casa de espetáculos consagrada de São Paulo que leva o nome de algum banco. O local escolhido para a estreia da peça “Ma’é Yyramõi – Mar à vista” será a aldeia Tapirema, localizada entre Itanhaém e Peruíbe, litoral Sul de São Paulo. Nesta sexta-feira (4), sábado e […]

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Não será no Theatro Municipal ou em qualquer outra casa de espetáculos consagrada de São Paulo que leva o nome de algum banco. O local escolhido para a estreia da peça “Ma’é Yyramõi – Mar à vista” será a aldeia Tapirema, localizada entre Itanhaém e Peruíbe, litoral Sul de São Paulo.

Nesta sexta-feira (4), sábado e domingo o território ancestral vai ser palco do espetáculo que vem sendo gestado há cinco anos e se propõe a trazer elementos inéditos para a dramaturgia brasileira.

Ma’é Yyramõi será toda interpretada em tupi guarani, com legenda em portugês, e exclusivamente com atores e atrizes indígenas. A trama narra a perspectiva do povo Tupi-guarani do litoral Sul de São Paulo sobre como foi a chegada dos colonizadores nestas terras.

“Ma’é Yyramõi  significa mar à vista. Escolhemos este nome porque é uma resposta à perspectiva dos colonizadores que, quando chegaram aqui, falaram ‘terra à vista’”, explica o artista indígena Juão Nyn, diretor e responsável pelo espetáculo, em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (4).

:: Confira a entrevista completa no reprodutor de áudio logo abaixo do título da reportagem ::

 

“Na perspectiva dos povos indígenas, pelo menos nestes que residiam no litoral Sul de São Paulo, era mar à vista, porque pela cosmovisão tupi-guarani eles viram o mar. O mar é tão sagrado que eles não entravam, não comiam os animais do mar. Mas a partir desse encontro o mar começou a ter uma relação diferente com esse povo “, complementa o artista.

Juão Nyn é integrante da Cia. de Arte Teatro Interrompido, a responsável pela peça. A dramaturgia é assinada por Luz Bárbara. A obra foi contemplada, em 2021, pelo edital Proac (Programa de Ação Cultural) do governo de São Paulo

Segundo Nyn, nunca foi cogitado que a peça fosse apresentada em outro espaço: “Ela foi pensada neste local, nesta praia, neste mar, nesse ecossistema, pensando que é um corpo-território”.

“Não olhando para o mercado ou para o capitalismo”, enfatiza Nyn.

Segundo o artista, a expectativa é que a peça seja apresentada anualmente, principalmente, pensando na população local que vive dentro do território indígena.

Inspirado no legado de Zé Celso, o criador do Teatro Oficina que faleceu em julho deste ano, Juão Nyn acredita que Ma’é Yyramõi está apenas estreando e deve permanecer por décadas.

 

“O teatro foi a primeira linguagem artística a colonizar o Brasil. Em 1561 a primeira peça realizada aqui, aquela inspirada na missa de Padre José Anchieta, as pessoas indígenas representavam demônios, elas atuavam mostrando a morte desses povos”, relembra Nyn.

Por tanto, o diretor aposta que peça seja uma impulsionadora de um movimento de reparação histórica para os povos originários. Nyn acredita que por meio do teatro é possível “trazer de volta tudo que foi tirado desta terra”.

Serviço:

De forma gratuita, a peça Ma’é Yyramõi – MAR À VISTA será apresentada nos dias 4, 5 e 6 de agosto em dois horário, 18h e 21h. O espetáculo acontece na Aldeia Tapirema, tendo como cidade mais próxima Peruíbe.

A organização do espetáculo oferece transporte gratuito por van de hora em hora a partir das 15h da tarde saindo da Rodoviária de Peruíbe tanto para a ida quanto para a volta da Aldeia Tapirema.

A pernoite na aldeia é permitida e sem custos. É preciso levar barraca, porém, é possível a locação do equipamento e de colchonetes no local.

A equipe oferece também alimentação no valor de R$ 20 a refeição e com valores específicos para períodos maiores.

BdF – – Foto: Mylena Sousa