O avanço tecnológico e o uso das redes sociais trouxeram mudanças consideráveis para toda a sociedade. Novas formas de trabalho, estudo, obtenção de informação. Contudo, nos tornamos reféns, ficamos conectados o tempo todo, sempre aguardando mensagens e informações. Por vezes, sentimos ansiedade e obrigação de visualizar, comentar, responder e não perdermos contato com o mundo virtual. A esse processo dá-se o nome de “Folo” – fear of logging off –, ou, medo de ficar desconectado.
É sobre a conexão o tempo todo que uma pesquisa tem foco. Sobretudo para entender o papel que as redes sociais desempenham no nosso cotidiano, o quanto nossas vidas estão alicerçadas na conexão full time, o quanto o nosso desempenho profissional e educacional e ainda as nossas relações interpessoais são afetadas positiva ou negativamente pela conexão ininterrupta nas redes sociais.
A Pesquisa da Consultoria em Marketing Digital Conversion (2021) mostra que os brasileiros ficam conectados em média quatro horas e oito minutos diariamente nas redes sociais. A média mundial é de duas horas e vinte e cinco minutos. A pesquisa evidencia que o WhatsApp é a rede mais acessada. Na sequência, estão Facebook e Instagram.
Pesquisadores afirmam que se antes era comum acessarmos a internet e sairmos, hoje é praticamente impossível, pois estamos constantemente conectados aos computadores e smartphones. O tempo todo. As pessoas não acionam o botão de saída das plataformas digitais. Acabam ficando de prontidão para estarem aptas a responder, interagir, compartilhar tudo, a qualquer momento. Essa conexão gera o sentimento de estarmos logados a tudo e a todos a qualquer momento. Contudo isso tem um custo. Traz a ansiedade, a exaustão, e o sentimento de que é preciso estar atento a todo o momento.
Medo de ficar desconectado
O “Folo” é algo recorrente essencialmente nos jovens. Foi o que identificou a pesquisadora Denise De Micheli, chefe do departamento de Psicologia da Unifesp, a partir de uma pesquisa com 264 adolescentes entre 13 e 17 anos, de escolas públicas e privadas.
O propósito da pesquisa foi identificar a influência do uso das redes socais na qualidade de vida destes jovens. A pesquisa revelou que 68% sofrem de dependência moderada em relação às tecnologias e mídias sociais, e 20% estavam enquadrados na dependência grave. Os jovens enquadrados como dependência leve apresentam melhor qualidade de vida nos aspectos físico, social e sentimental. Já os outros dois grupos apresentam médias menores na qualidade de vida física, sentimental, social e escolar.
A pesquisadora conclui que é urgente que o Transtorno da Dependência Digital (TDI) seja incluído na listagem do Manual Estatístico de Transtornos Mentais.
Diante das pesquisas, é possível perceber que o uso excessivo pode se tornar um vício. Especialistas afirmam que pode haver danos ao cérebro, tais como dificuldade na aprendizagem, depressão, insônia, solidão e risco de dependência tecnológica. Os likes geram uma sensação de euforia, desta forma o cérebro compreende que o acesso às redes sociais traz uma recompensa para o organismo, libera a dopamina, gerando a dependência.
Neste sentido, foi efetuada uma pesquisa com jovens da região do ABC. Houve a aplicação de um questionário eletrônico com duas seções, uma para identificar o perfil dos respondentes e a outra com questões acerca do comportamento do uso das redes sociais. O questionário foi inserido nas redes sociais (WhatsApp, Facebook, Instagram e LinkedIn).
Foram recepcionados 183 questionários. A pesquisa teve como maior incidência pessoas do gênero feminino, na faixa etária de 18 a 21 anos, solteiros, alunos na modalidade presencial e com ensino superior incompleto. O ramo de atividade de serviços no formato presencial.
WhatsApp é a rede de maior uso
A rede social de maior uso é o WhatsApp, seguido pelo e-mail, Instagram, YouTube, Facebook, LinkedIn, Tik Tok, Twitter, Messenger, Pinterest, WKwai e Tinder.
Questionados sobre os motivos pelos quais fazem uso das redes sociais, sobressai a comunicação social, seguido pela comunicação profissional e entretenimento.
Quanto ao tempo de conexão diariamente, chama a atenção os que ficam acima de cinco horas (20,2%) e os que ficam até cinco horas (12,6%).
Quanto ao acesso das redes sociais no ambiente de trabalho, 91 (49,7%), alegam que o acesso é feito somente nos horários de intervalo. Já 59 (32,2%) acessam durante o expediente, a qualquer momento. Outros 29 (15,8%) afirmam que apesar de a empresa permitir o acesso, preferem acessar fora do ambiente de trabalho. Apenas 4 (2,2%) dos respondentes afirmam que a empresa proíbe o acesso durante o expediente.
Questionados se o acesso às redes sociais trouxe algum tipo de prejuízo ao rendimento profissional ou escolar, 74 (40,4%) alegam que não tiveram nenhum prejuízo; 53 (29%) tiveram prejuízo no rendimento profissional e escolar; 37 (20,2%) no rendimento escolar e 19 (10,4%) no rendimento profissional.
Diante dos resultados, é possível perceber que o uso constante e inadequado das redes sociais inviabiliza a produtividade tanto no ambiente profissional quanto escolar.
Ansiedade
Em relação aos sentimentos e comportamentos, ficou evidente que a ansiedade está presente nas respostas. Fato que demonstra uma evidente necessidade de aceitação das postagens. Outro fator que merece menção, é o relacionado ao recebimento e compartilhamento de fake news, sem a comprovação da veracidade das informações recebidas.
Ficou evidente nas respostas que a conexão constante já causou algum tipo de interferência nas relações interpessoais.
Quanto ao uso do celular, 108 (59%) dos respondentes priorizam deixar o celular sempre por perto para verificar as notificações.
Outro achado importante na pesquisa é o fato de que apenas uma minoria adota uma rotina para responder as mensagens recebidas e que alguns preferem responder imediatamente, podendo causar danos à produtividade.
A questão relacionada à visualização de mensagens no celular enquanto dirige é outro ponto que merece destaque e causa preocupação. A despeito de haver incidência de multas de trânsito relacionadas ao uso do celular, a pesquisa demonstrou que 35,5% dos respondentes alegam já terem deixado de prestar atenção no trânsito por visualizar as mensagens.
Foi solicitado que os respondentes atribuíssem uma nota de 1 a 10, para o grau de dependência das redes sociais. Sendo que quanto mais próximo de 10, maior é a dependência, já quanto mais próximo de 1 menor é a dependência. A média final foi 5,76, fato que indica que existe uma dependência de nível moderado para forte das redes sociais.
Resultados
Os resultados possibilitam concluir que é inegável a contribuição das inovações tecnológicas no nosso cotidiano. Contudo o uso exagerado, descontrolado e desmedido pode acarretar prejuízo aos usuários, visto a tendência demonstrada em ficar conectado o tempo, e os sentimentos de ansiedade e preocupação ante a possibilidade de desconexão.
A pesquisa corrobora os resultados levantados nas pesquisas relacionadas. A dependência tecnológica ficou evidente sobretudo pelo número de horas que as pessoas ficam conectadas às redes sociais e a necessidade de constante verificação dos comentários e compartilhamento das postagens. Fato que indica a necessidade de aprovação.
Outro fato que merece destaque é quanto ao acesso das redes sociais nos ambientes de trabalho e de estudos, levando a prejuízos na produtividade, soma-se a isso a interferência causada nas relações interpessoais.
Conclui-se que a sociedade precisa se conscientizar dos males trazidos pela necessidade constante de conexão, de interação, de compartilhar, de responder, de ser visualizado. A dependência tecnológica é um tato real que está ocorrendo no nosso meio de convívio.
Antonio Aparecido de Carvalho. Doutor em Administração, mestre em Administração, Comunicação e Educação, MBA em Marketing, MBA em Gestão e Inovação do Ensino a Distância, especialista em Finanças e Direito Educacional e coordenador e professor do curso de Administração da Fasb
Renato dos Reis Cirera. Graduação em ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS, Especialização em GESTÃO DE MARKETING, Mestrado Engenharia de Sistemas de Informação na UFABC trancado. Professor de Tecnologia e Informação da Faculdade São Bernardo.
Neli Maria Mengalli. Doutora em Educação pela PUC de São Paulo, mestre em Educação – PUC de São Paulo, especialista em Tecnologia da Educação, graduada em Letras e Pedagogia, professora do curso de Administração da Faculdade São Bernardo, servidora pública na Secretaria de Estado da Educação.