A secura e o calor de Brasília (DF) não impediram que cerca de 50 mil pessoas se reunissem nesta quinta-feira (7), na Esplanada dos Ministérios, para acompanhar o habitual desfile do 7 de Setembro. Com duração de aproximadamente duas horas, esta foi a primeira festividade da Independência sob a terceira gestão Lula. O evento ocorreu em meio à memória gerada pelos anos em que o último ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), politizou a data e tentou colar às comemorações a imagem da extrema direita, com a exaltação dos ânimos de agentes das Forças Armadas.
A ressaca política produzida por aquele contexto fez com que nesta quinta-feira alguns militantes de esquerda comparecessem à avenida para prestar apoio ao atual chefe do Executivo. Foi o que fez a gestora cultural Teresa Padilha, que marcou presença na Esplanada acompanhada de amigas e empunhando a bandeira do segmento LGBTQIA+.
“Estou vindo para este desfile porque eu acredito neste governo, senão não estaria aqui. Esta é uma pauta que o Lula está trazendo, sempre trouxe. Então, acho que é importantíssimo que a gente fale também sobre a diversidade, sobre as diferenças, sobre a importância de a gente estar de igual para igual com todos e todas. O Brasil é isso.”

Segundo informou a Secom da Presidência da República, cerca de 50 mil pessoas assistiram ao desfile em Brasília (DF) / Ricardo Stuckert/ Presidência da República
Vestindo uma camisa vermelha com o rosto de Lula estampado, a cozinheira Ruth Lira chamou a atenção em meio ao conjunto de pessoas trajando uniformes e balançando bandeiras verde-amarelas. Ela ressalta que foi ao local especialmente com o objetivo de demonstrar apoio ao petista. “Ele foi alvo de muitas coisas ruins, acusações, montagens [político-jurídicas], então, a gente veio prestigiá-lo porque a gente sempre acreditou na sua inocência.”

“Acho importantíssimo que a gente fale também sobre a diversidade, sobre as diferenças. O Brasil é isso”, afirma Teresa Padilha [à esquerda] / Cristiane Sampaio
Segundo informou a Secom da Presidência da República, cerca de 50 mil pessoas assistiram ao desfile em Brasília (DF) / Ricardo Stuckert/ Presidência da República
Este ano a comemoração trouxe como slogan a frase “Democracia, soberania e união”, em uma tentativa de destoar do sentido dado por Bolsonaro ao evento nos últimos anos, quando a festividade ganhou ares de flerte com a ditadura militar. De forma a evidenciar o tema, o governo federal espalhou banners pelos prédios da Esplanada com imagens que faziam referência ao assunto.

“Todo ano eu venho”, diz Edmilson dos Santos, que se entusiasmou com os festejos na Esplanada nesta quinta-feira (7) / Cristiane Sampaio
Em sua faceta mais oficial, o evento contou com desfile do presidente Lula e da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, que surgiram no tradicional Rolls-Royce. Também contou com a presença de ministros, do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.
O trabalhador Edmilson dos Santos foi um dos que se empolgaram na avenida com o desfile. Enquanto assistia à apresentação de tanques do Exército, ele foi flagrado pela reportagem gesticulando um “L”, símbolo do apoio a Lula.
“Todo ano eu venho porque acho que é uma forma de festejar não só a pátria, mas a própria democracia. Este ano trouxe minha neta porque acho importante. Eu nasci aqui na capital federal e tenho orgulho de ser brasileiro”, disse, acompanhado pela pequena Sophia, de 6 anos, que ansiava pela apresentação da Esquadrilha da Fumaça, a última atração do dia.
A pequena se entusiasmou na hora em que um carro do Corpo de Bombeiros desfilou trazendo no alto o famoso Zé Gotinha, personagem que historicamente povoa o imaginário do país quando o assunto é imunização. A iniciativa se soma a diferentes movimentos do Ministério da Saúde, que tem tentado recuperar os índices de cobertura vacinal no país. “Eu tomei todas as vacinas”, gritou Sophia enquanto acenava com empolgação para o personagem, que foi bastante aplaudido pelo público.
Acionada para se somar à festividade da Independência deste ano, Zé Gotinha foi bastante aplaudido pelo público no desfile em Brasília / Ricardo Stuckert/ Presidência da República
Além do tradicional desfile das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros e de representantes de outras instituições, este ano o evento chamou a atenção também por conta da presença especial de indígenas ligados ao Exército. Diferentes agentes dos povos Tariano, Kuripaco, Baré, Kubeo, Yanomami e Wanano participaram da solenidade e fizeram uma saudação a Lula no idioma nativo de cada etnia.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, exaltou a presença do grupo ao se manifestar pelas redes sociais. “Vale destacar que as Forças Armadas têm papel fundamental nas operações de desintrusão de terras e para garantir a segurança dos povos indígenas em territórios de fronteira. Bom ver o compromisso das Forças Armadas com a democracia, soberania e reconstrução do Brasil”, afirmou.
A indígena Maria Flor Guerreira, do povo Pataxó, vive atualmente em Brasília e foi à Esplanada para assistir a todo o desfile. “Estar aqui é uma forma de ajudar a espiritualizar este momento para que este mandato aconteça da melhor forma. É bom ver que o país agora está começando a reconhecer que nós indígenas existimos”, afirma.
Acionada para se somar à festividade da Independência deste ano, Zé Gotinha foi bastante aplaudido pelo público no desfile em Brasília / Ricardo Stuckert/ Presidência da República
Queixas
O evento também foi alvo de algumas queixas. Logo na primeira parte da manhã, ainda antes de a cerimônia se iniciar, diferentes pessoas manifestaram dificuldade para acessar as arquibancadas destinadas ao público em geral – parte da estrutura montada na Esplanada estava reservada para convidados dos ministérios e autoridades. O governo havia feito nos últimos dias um cadastramento prévio digital para quem quisesse comparecer, mas a entrada era livre na parte destinada ao grande público.
Apesar disso, as portas foram fechadas em algumas entradas às quais a reportagem conseguiu chegar. Agentes alegaram questões de segurança e afirmaram que o espaço havia lotado.
“Venho há 15 anos [para o evento] e nunca tinha passado por isso. A gente está vindo lá desde o Congresso, tentando entrar de porta em porta, mas não estão deixando entrar”, queixou-se o trabalhador autônomo Wellington Pereira, que compareceu junto com a família para ver o filho mais velho desfilar. “Me sinto meio decepcionada com isso. Acho que a organização poderia ter visto melhor essa parte da entrada”, disse a esposa dele, Tatiana Cunha.
Também provocou críticas o não funcionamento de um telão posicionado à frente do Ministério da Educação, no bloco L da Esplanada. O equipamento, montado para a transmissão oficial da cerimônia, não funcionou em nenhum momento, enquanto os outros telões operavam dentro da normalidade.
A situação inviabilizou uma melhor visualização do evento por uma parte do público e gerou diferentes gritos de guerra que clamavam por uma solução, mas o problema não se resolveu até o final. O Brasil de Fato procurou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) para tratar dos problemas mencionados, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Agência Brasil