Segundo o jornal Metrópoles, ao menos 19 colégios militares estavam sob influência de deputado que teria articulado esquema de propina.
A coluna do jornalista Paulo Cappelli, no jornal brasiliense Metrópoles, noticiou na quinta-feira, (15/08) que o deputado Coronel Adailton articulou um esquema de corrupção, com propina e tráfico de influência, nos colégios militares do estado. É o que aponta uma investigação sigilosa obtida com exclusividade pela coluna. De acordo com o relatório de inteligência, Adailton Florentino do Nascimento e sua esposa e colega de farda, a capitã Elizete Jacinto, influenciaram promoções de agentes nessas instituições de ensino.
A divisão de Inteligência da PM destaca que Coronel Adailton (Solidariedade) cobrou aproximadamente R$ 5 mil de oficiais para que fossem nomeados diretores dessas escolas. Empossados nos cargos, os militares retribuíam a indicação e faziam doações eleitorais para a campanha do político à Assembleia Legislativa de Goiás.
Adailton é oficial reformado da Polícia Militar, ele foi chefe da Casa Militar de Goiás no governo de José Éliton (2010) e exerce forte influência na PM-GO.
Os investigadores mapearam sua influência em pelo menos 19 colégios militares. Essas unidades ficam em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Goianápolis, Pirenópolis, Goianésia, Senador Canedo e Jaraguá.
“A interferência do deputado Coronel Adailton e de sua esposa, capitã Elizete, é muito grande. Não se consegue movimentar diretores e há, inclusive, articulação nas vagas de novos alunos oferecidas essas unidades escolares. A escolha dos diretores dos colégios militares passava sempre pelo crivo do deputado estadual”, informa trecho do relatório, a que o Metrópolesteve acesso.
Segundo os investigadores, Adailton exerceu influência nos colégios militares através do tenente-coronel Luciano Souza Magalhães. Comandante de Ensino da Polícia Militar de 2021 até abril deste ano, Magalhães foi exonerado por Ronaldo Caiado um mês antes de o documento produzido pela Inteligência chegar oficialmente ao gabinete do governador.
Ainda de acordo com o relatório, o deputado recebeu doações eleitorais dos agentes apadrinhados com cargos. Luciano, promovido a tenente coronel em 2022, doou R$ 20 mil à campanha de Adailton, que concorreu à reeleição naquele ano.
“Em 2018, logo que o então tenente-coronel Luciano assumiu a direção do colégio Militar Cezar Toledo em Anápolis, (realizou-se) de maneira expressiva várias solenidades militares que envolviam esses colégios, o que facilitava ainda mais a interferência política do Coronel Adailton e sua esposa Capitão Elizete”, apontaram os investigadores.
“Hoje nós temos 76 unidades, cada uma dentro da sua performance trabalha para o engrandecimento do nosso sistema, que é o melhor sistema de ensino do Brasil, eu quero parabenizar todos que participaram e que nos trouxeram até aqui”, disse Adailton em sessão solene que celebrou a criação do Colégio Estadual da Polícia Militar de Goiás (CEPMG).
Deputado em silêncio
Procurada, a assessoria de Coronel Adailton afirmou que, como o deputado “desconhece o teor do relatório”, não irá se pronunciar no momento.
A Polícia Militar de Goiás afirmou à coluna que foi instaurado um inquérito policial para apuração dos fatos. A corporação disse ainda que tem “compromisso com a legalidade” e “não tolera qualquer desvio de conduta por parte de seus membros”.
O “boom” dos colégios militares ocorreu no início do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, o governo federal lançou o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, encarado como prioridade do Ministério da Educação na gestão passada.
Em julho de 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou no Diário Oficial da União (DOU) o decreto que revoga a iniciativa de Bolsonaro. Governador de Goiás, Ronaldo Caiado anunciou que transformaria os Colégios Cívico-Militares em colégios militares, para evitar que as unidades fossem fechadas ou integradas ao sistema regular de ensino.
“Esse processo já foi decidido por nós, porque sabemos a eficiência dos colégios. Então, não muda nada, está tudo resolvido. Goiás sai na frente”, afirmou Caiado após a decisão do governo Lula.
Fonte: Metrópoles