Apesar de ser maioria, nos últimos dez anos o empreendedorismo negro cresceu apenas 6% no estado, bem abaixo de pesquisa nacional que mostra crescimento de 22%
O empreendedorismo realizado por pessoas negras em Goiás apresenta características e desafios específicos que refletem tanto a diversidade quanto as oportunidades regionais. De acordo com a pesquisa sobre empreendedorismo por raça e cor, divulgada recentemente pelo Sebrae Nacional, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), a porcentagem de todos os donos de negócios negros na população total de negros com 14 anos ou mais em Goiás era de 10,3% em 2013. Em 2023, essa porcentagem subiu para 16,2%. Em números absolutos, isso indica que o estado possui a maioria dos negócios administrados por negros. São 621.090, que representam 57%, enquanto os donos de negócios brancos representam somam 475.490 (43%), que tiveram um crescimento em dez anos de 12,5% para 18,7%.
Apesar de serem maioria, os empreendedores têm menos escolaridade quando comparados com os brancos. Os homens negros empreendedores que possuem apenas o ensino médio são a maioria (36,2%), com uma participação menor de pessoas com ensino superior (28,4%). Já os brancos que possuem o ensino médio completo somam 35,9% e no ensino superior, 32,5%. A faixa etária predominante de empreendedores negros e brancos em Goiás, de acordo com a pesquisa, é entre 30 e 49 anos de idade. Para os empreendedores negros, as faixas etárias de 30 a 39 anos e de 40 a 49 anos apresentam percentuais muito próximos, atingindo 26% e 24,8%, respectivamente.
A taxa de empreendedorismo de negros em Goiás é de 16,2%, enquanto a taxa de empreendedorismo de brancos no estado é de 21,6%. A taxa de empreendedorismo refere-se à proporção de indivíduos que possuem ou estão envolvidos na gestão de um negócio em relação à população total de uma determinada faixa etária ou grupo demográfico. Essa taxa é um indicador importante para entender o nível de atividade empreendedora em uma região ou entre um grupo específico de pessoas. De acordo com os dados mais recentes da PNADc, essa taxa representa, por exemplo, que em cada 100 homens negros com 14 anos ou mais, 16 são donos de negócios, enquanto em relação aos brancos, esse número aumenta, ou seja, a cada 100 homens brancos com 14 anos ou mais, 21 são donos de negócios.
Com uma economia diversificada em Goiás, a presença de empreendedores negros está majoritariamente concentrada no setor de Serviços, que é o mais representativo em termos de números de negócios. Este setor inclui atividades como transporte, educação, saúde e serviços pessoais, que são fundamentais para a economia local. Mesmo com representatividade, os empreendedores negros no estado, de acordo com a pesquisa, enfrentam desafios como acesso a crédito, capacitação e formalização dos negócios.
Desenvolvimento de negócios
“Iniciativas de apoio como as oferecidas pelo Sebrae Goiás são essenciais para promover a inclusão e o desenvolvimento sustentável desses negócios. Oferecemos programas de capacitação, consultoria e acesso a mercados, entre outras ações que podem contribuir para o fortalecimento do empreendedorismo negro no estado”, explica a coordenadora de Políticas Públicas do Sebrae Goiás, Elaine Moura. Como exemplo, ela cita o Programa Territórios Empreendedores, que está sendo desenvolvido na região da Chapada dos Veadeiros, no Engenho II e no Vão do Paranã, locais em que abrigam as maiores comunidades kalungas em Goiás.
Para Elaine, o empreendedorismo negro é uma força vital para a economia local e contribui para a diversidade e inovação no mercado. “Com o apoio adequado e políticas inclusivas, há um potencial significativo para o crescimento e a sustentabilidade desses negócios, beneficiando não apenas os empreendedores, mas toda a comunidade”, ressalta.
William Sandro Bernardes da Silva é um desses empreendedores. Depois de 21 anos de atuação como educador físico e atleta, decidiu investir no próprio negócio há dez meses, em Goiânia, em uma loja de alimentos naturais, a Bem Saudável, no Setor Alto da Glória. Ele possui graduação e pós-graduação, o que o diferencia do perfil mais amplo dos empresários negros em Goiás, mas os desafios para montar uma empresa com qualidade e fazer dar certo são os mesmos. Segundo ele, logo no início já teve dificuldade de formatar um comércio que fosse na área de alimentação com um conceito voltado para saúde, com princípios de qualidade e bons resultados. Depois de tentar uma franquia, viu que não daria certo naquele momento e resolveu montar por conta própria.
O empreendedor fez diversos cursos no Sebrae. “O desafio agora é com o marketing digital chegar ao público, que é bem nichado, e aprender o passo a passo do e-commerce para elevar os ganhos”, explica. No momento William participa do programa Transformação Digital 5.0 para melhorar os processos de gestão e vendas em busca de melhores resultados. A Bem Saudável possui alimentos fit, mas também em versões tradicionais, como café especial, tradicional e expresso, capuccinos, bolos pães de queijo, salgados assados funcionais e tradicionais, marmitas fit e comida goiana como pamonha, canjica, curau e arroz doce.
Outros produtos comercializados na loja são bebidas energéticas, isotônicos, sucos, sucos naturais, mel, suplementos, mais de cem itens a granel, cosméticos naturais, encapsulados e alguns doces. Na Bem Saudável o cliente pode encontrar também óleos essenciais, chás, raízes e ervas naturais, comidas sem glúten e sem lactose, zero açúcar, proteicos e itens para presentes, como chocolates a granel, tábuas de queijos especiais, velas aromáticas, sabonetes e desodorantes naturais.
Perfil
O estudo do Sebrae Nacional com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) revela que 52,4% dos donos de negócio no país são negros, o que representa aproximadamente 15,6 milhões de empreendedores. Mesmo com a relevância desses números, a escolaridade está abaixo do ideal, principalmente no que tange ao acesso ao ensino superior; a renda média desses empreendedores é bem inferior se comparada aos pares brancos; e os homens são maioria, o que indica que as mulheres negras necessitam de suporte direcionado, já que ganham menos do que os homens negros e as mulheres brancas no mercado.
Confira outros dados do Brasil:
- A maioria, 67,8%, são homens
- 50,8% têm entre 30 e 49 anos de idade
- 42,8% possuem o ensino médio completo e 13,5% possuem o ensino superior completo; somente entre as mulheres pretas e pardas empreendedoras, 18,5% têm ensino superior 47,2% têm ensino médio
- Cresce a quantidade de negros donos do próprio negócio que contribuem para Previdência – em 2023, atingiu o recorde de 28,7%, diferença de 10,7 pontos percentuais em relação a 2012
- Estão presentes majoritariamente nas regiões Sudeste (37,7%) e Nordeste (32,7%)
- Atuam em sua maioria no setor de Serviços, que atinge seu recorde histórico em 2023, com 41,4%
- 89,8% são empreendedores por conta própria e 10,2% são empregadores