À CNN Lula pediu menos dinheiro nas guerras e mais no combate à fome

A CNN International exibiu a entrevista do presidente Lula para a jornalista Christiane Amanpour. Na conversa, Lula defendeu uma agenda de paz no mundo que abranja um engajamento das nações mais ricas do planeta no combate à fome e à pobreza, às mudanças climáticas e na reforma das estruturas da governança global. Em outras palavras, […]

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A CNN International exibiu a entrevista do presidente Lula para a jornalista Christiane Amanpour. Na conversa, Lula defendeu uma agenda de paz no mundo que abranja um engajamento das nações mais ricas do planeta no combate à fome e à pobreza, às mudanças climáticas e na reforma das estruturas da governança global. Em outras palavras, a agenda da presidência brasileira no G20, cuja cúpula se reunirá no Rio de Janeiro nos próximos dias 18 e 19 de novembro.

Para Lula, “o mundo não pode continuar gastando US$ 2,4 trilhões com guerras e com conflitos, quando a gente deveria utilizar esse dinheiro para alfabetizar e alimentar milhões e milhões de pessoas que ainda passam fome e pessoas que são analfabetas no mundo”.

“O que nós precisamos é aprender a cuidar do povo mais pobre, para que ele deixe de ser pobre e a gente consiga criar uma economia de consumo nos países pobres que hoje não tem esse direito de consumir”, explicou Lula, pouco antes de mencionar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pela presidência brasileira do bloco. “Menos dinheiro com guerra e mais dinheiro com paz é a solução que a gente apresenta para o mundo”.

Lula exaltou a inédita iniciativa do G20 Social, que tem acolhido propostas da sociedade civil do mundo todo e o G20 Mulheres, que tem discutido de forma ordenada questões de empoderamento das mulheres. “Eu estou certo, Amanpour, que a gente vai fazer um belo G20 e vamos tirar decisões importantes para ver se a gente torna o mundo mais humanista outra vez”, destacou Lula.

Relações de Estado

Perguntado sobre as relações entre Brasil e Estados Unidos após a eleição do republicano Donald Trump à Casa Branca, Lula argumentou que o Brasil tem uma relação antiga e amigável com os Estados Unidos e que ela deve prevalecer, independente de orientações políticas e ideológicas.

“E eu quero dizer, claramente, ao povo americano: eu terei com o presidente Trump uma relação de respeito como chefe do Estado brasileiro”, assegurou Lula. “E eu espero que ele tenha uma relação de respeito com o Brasil como chefe do Estado americano. Ora, se nós estabelecermos essa linha de comportamento, de civilidade, de respeito, o resto fica tudo muito mais fácil”.

Desafio do G20 é vencer desigualdades

Ao responder sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia e as implicações de uma participação do presidente Vladimir Putin no encontro, Lula alertou que a cúpula do G20 deveria se voltar para discutir questões concretas como o abismo social que existe entre os países. “Eu não quero desviar os assuntos principais do G20”, reiterou o presidente. “Ou seja, nós temos que sair do G20 comprometidos em lutar contra a desigualdade, contra a fome, contra o alfabetismo, que o mundo ainda padece”.

Lula lembrou que o planeta produz alimento suficiente para alimentar as mais de 700 milhões de pessoas famintas. “A gente produz alimento mais do que é necessário para servir a toda a humanidade. Então, nós não podemos continuar gastando dinheiro em guerra, gastando dinheiro em armas, quando a gente poderia garantir comida para todos os 733 milhões de habitantes que passam fome no mundo”, ponderou.

“Depois, nós temos uma coisa muito importante que é a taxação dos super-ricos”, lembrou. “Nós temos 3 mil pessoas no mundo que têm uma riqueza acumulada de quase US$ 15 trilhões, enquanto isso, você tem 733 milhões de pessoas passando fome no mundo”.

Desmatamento zero até 2030

Sobre as ótimas notícias de que o desmatamento da Amazônia caiu ao nível mais baixo em quase uma década, a jornalista disse que o resultado tem sido atribuído à atuação do presidente na agenda ambiental. Ela quis saber se o plano de alcançar o desmatamento zero até 2030 continua valendo: “Veja, eu tenho um compromisso, Amanpour, que é um compromisso que ninguém pediu para eu fazer. Eu tomei a decisão de anunciar que, até 2030, nós iremos acabar com o desmatamento na Amazônia. Esse é um compromisso meu”, garantiu o presidente.

Lula destacou ainda o potencial extraordinário do Brasil no campo energético e climático, enfatizando que o país possui 90% de energia energética limpa e 50% de energia limpa na matriz geral, em comparação com apenas 15% no mundo. E reforçou seu compromisso com a produção de energias renováveis como eólica, solar, biomassa, biocombustíveis e hidrogênio verde.

Contribuição dos países ricos

“Então, nesse aspecto da questão climática e da questão energética, o Brasil vai fazer com que as coisas aconteçam aqui. Daí porque o meu compromisso com o desmatamento na Amazônia”, esclareceu.

“E eu espero que os países ricos”, insistiu Lula, “espero que os países ricos, contribuam com o dinheiro que eles têm que contribuir, porque manter a floresta em pé custa dinheiro, porque embaixo de cada copa de árvore tem um indígena, tem um pescador, tem um camponês, e nós precisamos cuidar dessa gente, porque eles são seres humanos e precisam viver”.

Massacre em Gaza e reforma da ONU

Lula voltou a condenar o massacre do povo palestino pelo governo de extrema direita de Israel, – “mais de 40 mil mulheres e crianças, foram assassinadas” – e atribuiu parte do fracasso nas negociações de paz à fragilidade das Nações Unidas. Para Lula, a ONU não representa mais a atual configuração geopolítica do planeta e deve passar por uma revisão.

“Lamentavelmente, a ONU está enfraquecida e não pode tomar decisão e as pessoas não respeitam a ONU”, definiu Lula. “Ou seja, é importante que a gente volte a valorizar a ONU, que a gente mude os componentes da ONU”, defendeu o petista.

“Ou seja, não pode ficar só os de 45, é importante que a gente tenha mais gente, que a África participe, que a América Latina participe, para que a gente possa ter uma ONU mais representativa”, disse. “E, quando ela tomar decisão, a gente tenha que cumprir, porque senão, não vale nada tomar decisões nos fóruns internacionais”, advertiu o presidente.