Comandante do Exército expulsou militar golpista de sua sala

Os áudios obtidos pela Polícia Federal, além de incriminarem Jair Bolsonaro e seu círculo mais íntimo na tentativa de golpe de Estado e assassinato de Lula, Alckmin, presidente e vice, respectivamente, e Alexandre de Moraes e Flávio Dino, ministros do Supremo, mostrou também que o Alto Comando do Exército teve papel determinante para impedir que […]

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Os áudios obtidos pela Polícia Federal, além de incriminarem Jair Bolsonaro e seu círculo mais íntimo na tentativa de golpe de Estado e assassinato de Lula, Alckmin, presidente e vice, respectivamente, e Alexandre de Moraes e Flávio Dino, ministros do Supremo, mostrou também que o Alto Comando do Exército teve papel determinante para impedir que a intentona bolsonarista tivesse sucesso.

As conversas obtidas revelam resistência do Alto Comando militar ao golpe e que os criminosos contavam com apenas três apoiadores na cúpula do Exército. Em mensagens com o general Mário Fernandes, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu afirmou que havia uma divisão entre os generais que comandavam a força sobre aderir ou não à tentativa de golpe de Estado.

“Kid Preto, cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente. E a lição que a gente deu para a esquerda é que o alto comando ele tem que acabar”, disse o coronel reformado Reginaldo Vieira.

Num outro episódio revelado pela Policia Federal, o general de brigada Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército e então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, procurou o general de Exército Júlio César de Arruda, em seu gabinete, no Bloco B do Quartel-General do Exército (QGEx) em Brasília, no final de 2022, para o pressionar a impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a dar um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.

Seu objetivo era garantir o apoio do general ao golpe que vinha sendo urdido no Planalto por Bolsonaro, o general Braga Neto, o general Heleno e outros. Era dia 28 de dezembro de 2022.

O general de Exército Júlio César de Arruda chefiava o Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército. Mário Fernandes chegou à sala do general acompanhado por dois coronéis da reserva, ambos também oriundos das Forças Especiais (FE), assim como Mário e Arruda, que assumiria o comando do Exército no dia 30.

Depois de criticar o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, que não embarcara, dias antes, na trama do golpe urdida por alguns militares – e que incluía ainda um plano para matar Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – Mário foi direto com Arruda:

“O senhor vai assumir o comando depois de amanhã. O senhor tem de fazer alguma coisa!”. Queria barrar a posse de Lula. Arruda expulsou, imediatamente, Mário e os dois coronéis de seu gabinete e deu uma ordem: que não voltassem mais ali enquanto ele fosse o comandante. O general Freire Gomes também tinha dito a Bolsonaro que se ele insistisse na ideia de golpe, ele [Freire] seria obrigado a lhe dar voz de prisão.

O Ministério da Defesa reconheceu publicamente que os crimes de tentativa de golpe e assassinato de autoridades são delitos graves e busca individualizar responsabilidades e destaca contribuições das Forças Armadas em crises do país.

Ameaças de prisão a Bolsonaro por ex-comandante do Exército e possível golpe evitado pela recusa do comandante da Aeronáutica também são abordados.

Não obstante sua ação firme contra o golpista Mário Fernandes, o general Júlio César Arruda foi demitido por Lula do comando do Exército no dia 21 de janeiro de 2023 e substituído pelo general Tomás Miguel, atual comandante. Segundo fontes, havia críticas à atuação do ex-comandante contra os golpistas ainda acampados em frente ao QG de Brasília após o 8 de janeiro.